Sacolinhas de Supermercado

Há alguns meses reencontrei um grande amigo. Foi um bom reencontro, daqueles em que mal se sabe o que perguntar primeiro, mas bem se sabe que nunca, nunca se comenta o peso alheio. Em poucos segundos descobri o quanto a sua vida havia mudado, o quanto meu amigo tinha crescido e visto, e o melhor, que agora estava amando, novamente.

“É uma pessoa incrível sabe, mas tem um problema sério… Ela junta todas as sacolinhas do supermercado, todas! Minha cozinha está abarrotada de saco. Até acho legal essa coisa natureba de reaproveitar pra usar como saco de lixo, mas a minha casa está virando um lixão”. Eu poderia ter rido, mas não ri. Na verdade parei por alguns segundos para pensar no que estava ouvindo.

Ali, olhando para a indignação do meu amigo, pensei em todos os relacionamentos que despistamos com desculpas esfarrapadas da mesma estirpe. Não nos serve o cara que faz um som estranho ao coçar o ouvido, também não serve a guria macrobiótica, Deus me livre do carinha que foi de abadá no primeiro encontro, e graças aos céus conseguimos despistar a garota que não gosta do Black Sabbath.

De fato, lidar com as diferenças não é missão fácil. É mesmo um exercício de tolerância, como quando você pensa em jogar a coleção de filmes do Steven Seagal dele pela janela, mas não o faz. Pequenos desvios de caráter como ter lido e assistido todos os filmes da saga Crepúsculo são perdoáveis, vai. Exemplo disso é um outro amigo que disse que preferia morrer queimado na Sapucaí a ver qualquer filme dos vampiros saradões. Queimou a língua: na última estréia lá estava ele, de cara fechada, comprando pipoca para a namorada ensandecida. Já dá pra imaginar, no próximo filme, ele com dentinhos postiços, chorando mais que a sua senhora.

As diferenças, na verdade, podem nos ensinar muito sobre nós mesmos. Uma das grandes vantagens dos relacionamentos, além é claro de conseguir descontos especiais para casais em sites de compra coletiva, são os ensinamentos que as diferenças, de um e do outro, trazem para a vida a dois. Tenha fé, vai que essa mania algum dia passa. Tenha força, vai que essa maluquice só piora. Tenha ciência, de que você também não é perfeito.

O meu amigo, por exemplo, não desistiu do namoro. Na verdade casou-se. Ele joga secretamente metade das sacolinhas fora, toda semana (perdão amigo), dando aula de paciência, tolerância e astúcia. Os dois, ao invés de corrigirem suas manias, adquiriram juntos mais uma e agora andam amontoado, por todos os cantos da casa, pilhas e mais pilhas de amor.

Comentários

Postar um comentário

Leia também