Mãos dadas

Não solta a minha mão! — disse, apertando os meus dedinhos. Esperneei que eu nem tinha medo, que já era grandinho e ela me saiu com uma daquelas que me quebravam em dois: Eu sei que você não tem medo, mas eu tenho. Por isso pedi pra você não soltar a minha mão — sorrindo. Na época, me senti o garoto de sete anos mais forte das redondezas.

Andam de mãos dadas os pais, filhos, casais, amigos para espantar o medo de se perderem, ensinando para o universo o caminho de volta. As mãos, que nasceram prontas para se encaixarem, seguram, guiam, comunicam, pontuam frases inteiras, sem se soltarem. Um recorde mundial. Há um mundinho pequeno e doce ali, quando duas mãos mais parecem uma rosa, preguiçosa em abrir as janelas.

Jamais me esqueço do dia em que Clarice e eu dormimos com o dar de mãos estirado pra cima, como se fosse uma tendinha, como uma dupla de misses universo que empataram. Paz mundial. Os cotovelos apoiados no colchão de fofocas e os punhos grudados lá em cima, como que voando. A gente desmaiou de cansaço de tanto conversar, mas continuávamos grudados, numa quebra de braços em que o objetivo não era derrubar, mas manter em cima, no alto, senhores de sua própria fé. A gente desaguava um no outro.

Hoje, décadas depois, minha mãe ainda se atraca em mim para atravessar a rua. Exagera que a idade a está deixando cegueta. E eu adoro. Porque, hoje, sou eu quem morre de medo de perdê-la por aí. Com os anos descobri que a gente aperta bem forte a mão de quem ama muito mais por medo de nos perdermos de nós mesmos. Porque a gente é metade o amor que deu, metade o amor que recebeu, e o afeto é parte do que nos mantêm inteiros.

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