Tchau

Você disse tchau e eu fiquei na dúvida: você estava dizendo que ia embora pra casa ou que ia ficar pra sempre comigo? Você disse tchau e meu ouvido ouviu — te amo — e eu nunca tinha notado como esses dois dizeres são parecidos, como os pombos branquinhos que vão se misturando enquanto bordam o calçamento da praça.

O meu ouvido entortou a sua despedida até virar morada ou você disse mesmo que me amava pouco depois de me conhecer? E eu fiquei ali repetindo, repetindo, repetindo aquela palavra solitária que às vezes parecia ser duas. Tchau, tchau, tchaum, teaum, team, te amo, poxa.

A impressão que eu tinha é que orando baixinho, o seu adeus ia acabar mesmo virando amor por mim. Da outra vez, fiquei atento. Eu queria olhar pra sua boca articulando as palavras. Era te amo ou nada. Na estação, pouco antes de entrar no último vagão, você me jogou um beijo como quem joga uma flor, com cuidado, e disse outra vez que me amava. Se bem que poderia mesmo ter sido só um tchau. E eu voltei pra casa ruminando a proximidade que havia entre aquelas duas ilhotas tão distantes.

E isso se repetia ao telefone, do outro lado da rua, na porta do cinema, na frente do tanque das sereias no aquário central. Até que eu te segurei na escada da minha casa — Pera lá! Você disse tchau ou te amo? — Você sorriu de um jeito tão doce e naquele segundo ficou tudo tão claro pra mim: era eu quem dizia baixinho que te amava, do lado de dentro de mim.

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