Reencontro

Passe quanto tempo passe, aconteçam quantas mudanças aconteçam ao centro de nossas órbitas: reencontrar um olhar cúmplice, um cheiro conhecido, um abraço despreocupado é sempre reencontrar-se. Se pessoas são lugares, encontros são estradas. Reencontrar é pôr-se em trânsito, na ânsia das chegadas, no ímpeto das partidas. Reencontrar é colocar a alma para viajar como um carro antigo que volta às curvas de uma estrada conhecida, sem pressa.

A dádiva do reencontro fica mais clara, é claro, sobre as costas largas do tempo que se espreguiça, ainda que também seja possível reencontrar quem se vê todo dia. Reencontrar com a mesma doçura quem se viu antes dos sonhos, quem se reencontra na régua tórrida dos dias, no empilhar quase metódico das horas, quem a gente sempre tem à mão para dividir nossas banalidades mais simplórias. Penso até que amar é reencontrar alguém todo santo dia.

Reencontrar um olhar que descansa, um afago que toca, uma música que remete, um assunto que se continua após anos e anos como se só tivesse esperado a fervura do café. Alguém que traz consigo um tempo em que o tempo parecia ser mais distraído, alguém que nos devolve a firmeza da pele, a abundância dos cabelos, o aveludado da voz, alguém que nos devolve uma parte de nós que a gente nem sabia mais que existia. Reencontros deviam ser vendidos em potinhos: o melhor anti-idade que existe.

E devagarinho a gente nota que a beleza da vida também vive na fidelidade dos ciclos. Porque quem vai e nos deixa mais vagos, quem parte e nos reparte em gomos, quem constrói pontes de saudade que ligam um lugar a si mesmo, quem esmaece da retina e da rotina, mas a gente nunca esquece, também um dia volta. E nós, que até então éramos só um tantinho menores pela falta, nos tornamos imensos pela presença, abençoados pelo reencontrar. Ontem reencontrei meu amigo Glauber.

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