Tailândia

Perdão, eu tive que sair mais cedo. Tive que ir porque você não podia ficar. Meu coração é um palácio imenso. Você provavelmente se perderia por lá, tentando me encontrar. Meu palácio oriental é adornado pelos tons envelhecidos do ouro solitário. Um tesouro precioso que vou carregar comigo até mais adiante, até o fim de mim.

Hoje já entendo que a companhia da solidão não é tão cruel quanto nos contaram. Talvez nem todo mundo tenha nascido para andar em pares, talvez nem todo mundo precise aprender a dançar a dois. Eu não sei coordenar passos. Acabo sempre atropelando o caminhar dos outros, correndo na frente, pisando no meu próprio pé. Eu tenho dois pés esquerdos e sorte no jogo. Acho que eu vim ao mundo para caminhar mais só, dançar num ritmo que é só meu, freestyle.

Não entenda mal, não estou desistindo do amor. Mas ele me chega também dos passantes na rua estreita, das crianças colecionando folhas secas, dos mendigos dançando com um guarda-chuva lilás, do músico triste que afina seu instrumento. O amor me chega por um telefonema inesperado de longe, em uma foto engraçada da qual não me lembrava, no som doce da voz da minha mãe. O amor é farto para quem sabe enxergá-lo.

São amores que nos alimentam como os frutos vendidos nos barcos de Damnoen Saduak. Para provar de cada sabor, não é preciso embarcar ou desviar seu caminho. O rio segue, o barco desliza silencioso e o amor salta aos olhos, generoso, abundante, leve. Em algum momento, nós todos estaremos sós. Eu só estou ensaiando os passos. Hoje, eu dançarei sozinho, em meio ao ouro envelhecido e cansado do meu coração.


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