Signos

Já era tarde quando cheguei. Liz me recebeu de pijama à porta. Adoro usar as conexões mais longas dos voos para me reconectar às pessoas que amo e estão espalhadinhas por aí. Fomos até o armário grande do quarto pegar cobertores, e o que vi lá me deixou estarrecido. Aquele armário era impecavelmente organizado. Formatos, cores, uma obra de arte. Aquela não era a Liz que conheci na faculdade.

Liz era tão desorganizada que fazia uma pá com o braço, jogava os montes de roupas da cama no chão e simplesmente dormia. Quando ia receber uma visita importante (leia-se: rapazes), ela simplesmente atochava todos aqueles milhares de paninhos coloridos no armário, como se fossem seu amante. O que aconteceu com a minha pisciana preferida? Ela riu e me explicou que simplesmente tinha mudado.

Um corte de cabelo, uma dezena de quilos, a brancura dos dentes, essas coisas eu entendo, a gente muda mesmo, mas dá pra mudar quem a gente realmente é? Liz me ensinou que dá. Ela voltou a estudar e não só se tornou mais organizada. Ela se tornou a melhor nisso. Uma Organizadora Profissional. A gente vai se acostumando a aceitar o pior de nós e dos outros. Herança dos pais, sentença do signo, a desculpa que for: a gente vai se acostumando. Mania terrível.

Até mesmo as montanhas se movem, se transformam em outra coisa, desfazendo-se em migalhas e lançando-se ao vento. Até mesmo os rios mudam seu curso na lentidão dos anos, tornando-se um rio diferente um segundo após o outro, insistentemente. A transformação só é impossível até nós descobrirmos que ela não é. A montanha é sua mente, o rio, seu coração. Mova-se na direção que quiser.

Comentários

Leia também