Louca

Jogou as flores pela janela meio aberta e mandou que saísse. Que deixasse livre a sala do apartamento, que deixasse livre a vida que era dela. Antes de vê-lo ralentar a porta para não deixar bater atrás de si, disse novamente aquelas palavras que a tanto tempo perseguiam Lilian – Você é louca, sabia? – para a qual ela respondeu com uma espécie de grunhido, do tipo que só as doidas dão.

Talvez estivesse mesmo ficando meio pirada, mas naquele instante, ela era toda a razão. Quem sabe se arrependesse em uma ou duas horas, mas talvez não. O que Lilian sabia era que naquele instante manda-lo ir embora era tudo o que podia e gostaria de fazer. Sem plano adiante, sem grandes reflexões, sem noite mal dormida. Apenas mandou que saísse após se sentir mais uma vez diminuída. Fez-se gigante.

Sentiria sua falta na oca de cobertores? Pensaria mais nele quando chegasse o domingo? Provavelmente. Se manteria firme em seu ato de mantê-lo longe até que virasse hábito? Ou correria atrás dele desejando um único perdão que consertasse aquela lambança toda? Não sabia. Não era a obrigação dela ali. Por doida já havia passado, a fama já tinha. Decidiu usar isso para não enlouquecer.

Estava errada em sua raiva desmedida? Imaginando coisas onde nada morava? Estava exagerando ou estava dando a ele a resposta exata que merecia? Só mesmo o amanhã diria. Naquela noite dormiu sozinha, dolorida, mas respirando mais aliviada. Naquela noite não sentiu culpa, insegurança, medo. Ele havia levado com ele toda a confusão de sentimentos com as quais a envolvia. E, veja, que grande ironia, havia ficado ela apenas com sua loucura emprestada e a certeza de que naqueles minutos de paz que lhe rondavam, ela estava coberta de razão. Fez o que queria. Feito raro nos dias de hoje.



Comentários

Leia também