Outono

Volta daqui um ano. Passa daqui uns meses, combinado? Volta que agora o passado é que não me deixa seguir adiante. Volta e se coloca preciosamente diante dos meus olhos. A sua visão é a primeira que tenho depois de nada enxergar, depois de muito tempo. Como um alumiar fazendo cócegas na dureza noturna. Você pode voltar?

Agora não dá. É tempo perdido, momento errado, dia desses que ninguém mais cabe. Ninguém além das memórias da gente. Promete que volta? Passe mesmo na volta pra me encontrar. Até lá, talvez eu já possa transformar essa adoração delicada em algo que faça bem a nós dois. De fato, hoje só me sinto inapta.

Talvez até lá eu já carregue no peito um lugar tranquilo onde você possa esquecer-se que de nós nada fica. E mesmo cientes de que toda vida é preenchida de ida, tramaremos segui-la juntos. Idos os anos em que nos maturamos e nada aprendemos. E nada aprendemos.

Passe na volta. Por enquanto só quero me sentar à porta como quem também mora pelo lado de fora. Por enquanto só posso amarrar meus cabelos em uma desordem mais contida, respirar bem fundo acarinhando meus pulmões, ser leveza, ser sozinha, ser eu mesma, miudinha, abraçando os próprios joelhos.

Você parece mesmo ser incrível e, ao mesmo tempo, incrivelmente inconveniente. Pra você darei meu ‘sim’. Não agora. Eu nunca soube amar menos do que com tudo. Passa outra hora, vai! – como se apaixonar-se pudesse mesmo voltar, como retornam depois do frio as estações mais quentes.


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