O mesmo

Atenção, antes de adentrar ao elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar. Sempre rio internamente quando releio isso esperando pelo elevador. Lembro-me de um amigo que diz que morre de medo desse tal de O Mesmo de quem tanto falam. E tem gente que entra no raio do fosso sem que o elevador esteja lá para transportá-lo até outro andar que não o da morte? Pois é, parece que há.

Você mesmo, você aí, já saltou milhões de vezes no precipício, de braços abertos e um sorriso imenso no rosto. Você mesmo já mergulhou no poço fundo e escuro que por vezes pode se tornar o sentimento do outro. Você já amou e não pediu muito em troca, você já sonhou e não avisou ninguém, você já esticou os dois braços esperando que o outro enxergasse convite pra abraço.

A gente entrou e nem observou se o sentimento do outro estava no mesmo andar. Pobres de nós, todos tão perdidamente iguais. E para eles, elevadores solitários, que conversam sozinhos, que passam o dia contando seus ganhos e perdas, que sempre fazem o mesmo caminho, mas ainda acreditam que podem mesmo sair por aí voando, para eles, não há avisos pelo lado de dentro. Só este espaço frio que nasceu para ser cheio e depois vazio.

Quando eu te chamo, em meio à noite, não só estou pedindo que você venha me buscar, eu também peço que você me deixe entrar e ficar onde ninguém mais ficou. E é aí que quebro esse silêncio imenso, esse constrangimento do que há ou não haverá por dentro e te pergunto, ainda que baixinho, ainda morrendo de medo do seu não: nós estamos no mesmo andar? Porque eu já te adoro e adoraria que você sentisse o mesmo.

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