No tempo do amor

Conheci a Nataly e o Yuri ainda nos tempos de faculdade. Nem conhecia os dois e já quis perguntar — Vocês são namorados? — eles sorriram e Yuri respondeu que estavam namorando há dois meses. Alguns anos depois descobri que eles tinham acabado de se conhecer, um ou dois dias antes. Descobriram que queriam namorar ali, diante da minha pergunta, rendidos pela minha indiscrição de praxe da época.

Cinco dias depois de se conhecerem, se casaram. Sim, em uma semana, dois completos desconhecidos decidiram que viveriam suas vidas juntos. Não estou defendendo o apressar das coisas. Pouquíssima gente consegue ser feliz como eles são, ter a cumplicidade invejável que os dois têm, esbanjar afinidade, mesmo tão diferentes entre si.

Pouca gente se arrisca a juntar as manias e as rotinas com um completo desconhecido. Menos gente ainda acerta. Só estou dizendo que não existe um roteiro. A história deles é a prova máxima disso. O amor tem seu próprio tempo, seu jeito desajeitado de somar as horas, sua afobação em comer minutos e segundos que se dobram, deliciosamente.

Não há garantias, toda a probabilidade diz mesmo o contrário. É que às vezes a felicidade não pode ser adiada. Aqueles dois só precisaram de uma semana para entender que não poderiam adiar, nem mais um dia, terem-se. Permitiram-se, sem culpa. A gente devia se permitir mais arriscar, dizer que ama primeiro, dizer que será pra sempre, sem se regular. A gente devia se permitir não adiar a vontade de estar junto, dizer que não vai embora nunca mais, largar tudo, a gente devia se permitir arrepender-se.

No caso deles foi amor à primeira vista? Talvez. Gosto de pensar que os dois souberam, no momento em que se olharam, que um dia eles se amariam muito. Devoção à primeira vista. No tempo do amor, um olhar pode ser tempo bastante para sabê-lo.

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