Mantra

Juliana, este é o Cadu. Cadu, esta é a Juliana. Vocês ainda não se conhecem, mas, em alguns anos, ela vai parecer ser tudo o que você já conheceu. Em alguns anos estas mãos que agora se encaixam com certa dureza para se encontrar, vão se tornar a maior parte da razão para que vocês sejam fortes. Estes olhares que se passeiam, um dia se mergulharão e a cada vez que isso for feito, vocês entenderão novamente do que são feitos.

Você encontrará paz nos dedos dela se misturando aos seus cabelos e ela, vai meditar sobre o seu peito, com seu ar sonolento dos sábados à tarde como mantra. Seu ritmo vai acalmar o ritmo que é dela. Seu ritmo vai enlouquecê--la e depois acalmá-la outra vez, e outra e outra vez. Vocês
vão dar alma pra vida um do outro.

Não, nem tudo serão flores, vou logo avisando. A Ju range os dentes enquanto dorme, fala palavrão em momentos impróprios, ela dorme no meio dos melhores filmes. Mas o som do riso dela vai finalmente confortar o seu coração como uma casinha cheia de bordados. Ju, o Cadu vai esquecer datas, trocar caminhos, errar nomes, se embaralhar no supermercado. Você também vai precisar relevar o péssimo gosto dele para música, camisas e amigos.

Mas, ainda assim, ele será o homem que mais vai gostar de prestar atenção em você. Talvez vocês se conheçam num cruzamento agitado onde a rua beija a avenida, talvez no olhar descompromissado através da vitrine, no gesto educado de segurar o elevador, talvez no mau humor ao final de um dia cansado. Não se apressem. Vocês terão todo o tempo do mundo para se encontrarem, antes e depois de se conhecerem.

Cadu, esta é a Juliana. Ju, este é o Cadu. Vocês ainda não se conhecem, mas sempre se procuraram por aí.

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