Irmãos Que São Pais

Aqueles olhinhos esticados de curiosidade seguiam os passos do mais velho com atenção. Para cada pernada grandona, duas pernadas do mais novo. Queria estar ao lado, para ver igual. Queria observar os olhos do irmão e também enxergar bem longe. Queria se equiparar, medir força, não para superá-lo, mas para sê-lo. Comparar-se ao mais velho era outro jeito que o amor encontrou de torná-los ainda mais próximos.

— Não vai por aí, cuidado, menino! — agarrando aquele braço ainda magrelo. Mas quem tinha medo era ele, o mais velho. Tinha um medo danado de perdê-lo pelo caminho, de perder seu sentido de ir. Eram aqueles olhos curiosos que o inspiravam, aquela teimosia doce que também o tornava mais persistente, era aquela mansidão que lhe emprestava a paz.

Quando a mãe partiu, tornou-se colo. Na distância do pai, fez abraço. Vai ver que a gente é um pouco pai mesmo daqueles que amamos. Entre tantos abandonos, um era quem sempre estava para o outro. Entre tanta saudade, um era sempre um achado de pequenas lembranças corriqueiras da mãe. Entre tantos caminhos, um por fim era toda a casa que o outro conheceu.

E depois de tanto tempo sozinhos, deixaram enfim de se verem solitários. Se tornaram toda a família um do outro. E aos poucos, toda a dificuldade se tornou candura, todo o medo se tornou coragem, toda a falta se tornou um amor constantemente presente pela casa. Bastavam-se, fartavam-se. O amor é mesmo o pai de todos os pequenos milagres. Um era o milagre sereno do outro. Ambos pais do filho que o outro criou.

Para Pepê e Jhony, irmãos e pai um do outro.

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