Eu Sou a Estrada

Estou correndo. Ainda que me falte o ar, ainda que o suor sobre minha testa não me deixe enxergar o caminho à frente. Estou correndo, ainda que minhas costas pesem, mesmo que minhas pernas não suportem toda a liberdade que carrego em meu peito. Estou partindo daqui.

Estou voando, me lançando adiante o mais rápido que posso, já que nada no mundo me apavora mais do que a possibilidade milimétrica de não ser mais livre. Estou rompendo com minha vontade de desistir, com meu medo de escolher e meu ímpeto de assentar-me como névoa, até não mais ser.

Porque eu sou o raio e depois a brisa. Eu sou o fogo e depois silêncio. Eu sou a ida e em seguida adeus. Eu sou a travessia e depois a ponte. Eu sou o rugido e depois a fome. Eu sou a revoada e em seguida o estalo. E enquanto corro, eu sou a estrada.

De fato, há um pouco de fuga em todo libertar-se. Em todo avançar, há um pouco de abandono. A cada nova segurança, há um desprender-se. A cada nova descoberta, uma perda. E assim, vamos nos desfazendo, a cada novo passo. Estou buscando, como cavalos selvagens, como desfiladeiros, como rebeliões, como o olhar das crianças, como paixões no tempo, como trens que partem sem olhar para trás.

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