Destinos

Você pode tirar uma foto minha? Desculpa atrapalhar, é que estou viajando sozinho — disse Lincoln para Daniele. Ela e sua prima pareciam ser as únicas pessoas falando português na Golden Gate naquele dia — Nós vamos atravessar a ponte de bicicleta, quer vir com a gente? — convidou Daniele depois de uma breve conversa e algumas fotos para o rapaz. Naquela manhã ensolarada, ela pensou que só estava aceitando ajudar um desconhecido simpático, contrariando seu pé atrás costumeiro com os desconhecidos. Naquele domingo, ele imaginou que seria divertido aceitar alguma companhia. Quase dois anos depois de terem se conhecido na Golden Gate, eles vão se casar.

Gosto de pensar em como o destino é graciosamente sábio. Adoro ver a delicadeza com a qual ele nos guia para o nosso inevitável, para aqueles encontros que darão sentido à nossa vida. Vai ver que o destino também é uma ponte, sempre ligando a gente a algo maior e mais profundo que só faz sentido na inquietude da gente. Vai ver que o destino é uma ponte encurtando o caminho até alguém que já nasceu para também descansar-se em nós. Tenho pensado muito nisso após conhecê-los, a Dani e o Lincoln.

Em uma cidade onde tanta gente se perde, entre dezenas de olhares, foi o deles que se cruzou, foi ali que eles se encontraram. Poderiam ter se cruzado na recepção do hotel. Sim, eles estavam hospedados no mesmo hotel. Você sabe quantos hotéis existem na Califórnia? Poderiam ter se esbarrado no aeroporto. Sim, eles chegaram no mesmo dia em São Francisco. Você sabe quantos voos chegam e partem para milhares de destinos no mundo todo, todos os dias? Mas aquele era definitivamente o destino deles.

Engraçado pensar que, com um tantinho mais de timidez, Lincoln poderia ter perdido a chance de conhecer a Dani. E se o café dela não tivesse atrasado muito mais que o normal? E se o ônibus dele não tivesse parado no lugar que era errado e encantadoramente certo ao mesmo tempo? E se, na vida da gente, todos os aparentes obstáculos, atrasos e percalços forem na verdade uma direção? Como quem diz — Segue por ali, vai — apontando pra direita o dedinho do destino.

E se todo encontro for mesmo um presente? Nessas horas fica ainda mais evidente que é o amor que escolhe a gente. Você tem enxergado com clareza para onde o amor está apontando? Tem se deixado guiar ou está procrastinando o encontro? Foi o amor, e não a ponte, que levou um à margem do outro. Foi o amor que mostrou o menino da ponte para a menina das fotos. Foi o amor que os reuniu como quem escolhe uma casa onde quer morar.

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