Deixa ir

Como folhas secas no ar, como água pura entre os dedos, como um riozinho metendo-se caminho adentro, deixa ir. Como profetas que caminham na beira da estrada, como dentes-de-leão que se despedaçam, como uma montanha que se esfarela, ano após ano, sem ninguém notar, deixa ir. Deixa partir de ti o amor que não te torna grande, o calor que não te acompanha, a saudade que só existe em você. Como estrela que se lança ao mar, segura de um novo céu, deixa ir.

Como a criança que se lança à frente em primeiros passos, sem medo algum de cair, como a noite que joga seu manto, dona imensa de si, deixa ir. Como a fé que segue adiante, como o livro que é viajante, como a pluma que, de mãos dadas com a brisa, se torna também brisa por aí, deixa, deixa ir. Deixa que vá o apego ao medo, o desejo vazio, o silêncio como resposta, deixa que vá quem já vive à porta. Como as horas que giram, crianças fazendo ciranda, meninos matando o tempo na inocência do repetir, deixa ir.

Como as bolhas de sabão o sabem, como o pássaro que se põe mais longe, como os velhinhos que se guardam em si, cada dia um pouco mais. Como o beijo que se fez roubado, como o galho que aponta para o alto, acenando aos deuses que está ali, deixa ir. Deixa que tudo siga seu caminho mais natural.

Porque também é da ordem das coisas que o seu encontre seus braços abertos, que o seu se deite em seu peito liberto, que te encontre através dos seus olhos iluminados. Como pista de pouso, como constelação, como farol que espreita as ondas escuras, deixa também o caminho aberto para quem quiser vir.

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