Chegando

Eu queria que você morasse nesse pequeno instante, nestes exatos três segundos que estou vendo agora. Eu queria que você se deitasse no tempo, como quem descansa à sombra de uma quaresmeira florida, sem pressa de seguir. Eu queria você da forma como te vejo agora, pelo resto de uma vida: chegando.

Eu queria me manter curioso, descobridor de você, buscando pistas entre as palavras. Meu mistério eterno, quebra-cabeça irredutível, charada insolúvel, eu não queria jamais te entender. Queria me manter ignorante, bobo, com as mãos frias, ainda que suadas, quando me chegasse você. Eu te queria assim, se entregando aos poucos pra mim, roubando-me pra você.

Eu queria você em um movimento eterno de translação, desenhando meus contornos, expandindo minha órbita, vigiando a minha loucura, alimentando-a. Eu queria você sempre ao alcance do começo das minhas mãos.

Eu queria te pausar agora, enquanto seu sorriso se abre quando me vê. Eu queria guardar, não a primeira, mas a segunda vez que te vi. Foi na segunda que eu soube que queria morar ali por alguns anos, à beira do lago dos seus olhos, à margem do seu coração. Eu queria continuar acabando de te conhecer, ansioso pela sua volta, com uma vontade incontrolável de te encontrar pra não saber o que dizer, tropeçar nas palavras. Eu queria desacelerar o tempo pra fazer durar a doçura que é te receber em mim.

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