Buscadores

Naquela manhã em Villa Las Estrellas, Ananda colocou a ponta do nariz pra fora, seguindo o som das crianças que brincavam na neve. Aqueles pontinhos coloridos sumiam e reapareciam como que magicamente. Entre elas, o irmão mais velho, Pablito, comandava uma brincadeira que para Ananda não fazia muito sentido — As coisas que nos fazem mais felizes são preguiçosas de sentido e inundadas de sentimentos — pensou.

Brincavam assim: ao comando do mais velho, saiam um grupo de três para um lado e outro trio na direção oposta. Alguns metros adiante, um deles bradava — Aqui! — e começavam a juntar a neve em baldes, carrinhos, panelas, nos braços, onde quer que fosse e voltavam correndo para a marca inicial em que mais algumas crianças começavam a fazer uma espécie de boneco de neve — Pablito, Pablo! Como se chama essa brincadeira? — curiosa. Sem tirar os olhos das crianças que corriam, respondeu para ela que se chamava carrera.

— Quem termina o boneco primeiro, ganha? — insistiu. Pablo fez que não com a cabeça — Quem corre mais rápido é que ganha, Pablo? — intrigou-se. Pablo negou outra vez — Ganha quem carrega mais neve, é isso? — já sem opções — Ganha quem acha a neve mais bonita — resumiu sem muita paciência com a pergunta boba. Veio aos dentes dizer que neve era tudo igual. Veio, mas parou ali, na beirada do abismo do dizer.

Com o tempo, notou que todas as manhãs as crianças pareciam fazer a mesma brincadeira, com nomes diferentes — Revolver — respondeu uma — Loco Loco — gritou a outra carregando um montão de neve esbaforida. Sentou-se à janela e ficou vendo-as brincar de sua brincadeira sem sentido e sem nome, pensando na noite em que abandonou um noivo, mil planos e embarcou para o mais longe que pôde a convite de uma amiga. Jamais pensou que iria tão longe, quando colocou o passaporte na bolsa, quando viu Claudio pela primeira vez. Ele nunca foi tudo o que ela quis, mas certamente era tudo o que ela havia pedido, então, o aceitou. E ali, observando as crianças de Villa Las Estrellas, ouviu seu coração dizer baixinho que devia aceitar-se com doçura.

Há gente que prefere a busca que o encontrar. A busca é cheia de esperança, como uma janela que se abre para a rua e suas novidades — Eu sou uma buscadora, não uma encontradora — riu sozinha do termo que acabara de inventar. Essa era a brincadeira dos meninos: se mover, se manter aquecidos, procurando por algo que só existia aos seus olhos, e, no fundo, rezando para nunca encontrarem. No frio ou na vida é preciso se mover para nos mantermos aquecidos, vivos. Quem é de buscar, que busque. Quem é do encontro, que encontre. Embora muito parecidos, não há um só floco de neve igual nos montes de Las Estrellas.

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