Baía

Abraça-me. Me abraça, que eu quero me encostar todo em teu mundo. Em teu peito, serei menino, com sua orelha pregada na parede tentando ouvir os segredos que moram dentro. Abraça-me e naquele minuto eterno eu serei só abraço. Abraço que não é substantivo direito, que é ação, mas não é verbo perfeito, que é a demora mais curta que se pode querer.

Aceita-me. Envoltos um pelo outro, abra-me e eu também te abrirei, como quem diz ‘sim’ com o corpo todo. Sim. Como quem aceita o outro inteiro e sem reparos.

Aceita-me que eu também te aceito, deixa-te acalentar pelo meu respiro que sobe forte e desce devagarinho pra não te machucar. Aceita-me e depois encaixa tua volta à minha volta, como um laço.

Fica aqui, na ternura que sombreia o meu queixo quando você está sobre os meus ombros. Fica em mim pelo tempo que precisar, até a dor passar, até a saudade se distrair, até sua alegria me inundar, até quando não for preciso, abraço preventivo. Cala naquele instante meus zumbidos, minhas dúvidas, minha ânsia de me demorar bem pouco.

Abre-te e me abra também como quem ensina a voar, baixinho, curtinho, sem sair do entorno de si. Abraça-me, agraça-me e eu te abraçarei também por toda a vida que me restar para ser o abrigo do teu avesso. Abre-te. Abre teus braços e me acalma como uma baía acalenta um pedaço da fúria do mar.

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