Às pérolas

Tentaram cegar meus olhos e, em resposta, enxerguei mais adiante. Tentaram me cortar as unhas junto com as pontas dos dedos e, em resposta, agarrei-me aos meus sonhos. Tentaram me parar. Em resposta, corri o mais rápido que pude, sem olhar para o que deixei. Tentaram me sufocar com beijos e, em resposta, abri todo o meu peito.

Tentaram contar mentiras ao meu respeito e, em resposta, bastou que eu me mantivesse como sou e elas não duraram um mês inteiro. Tentaram amargar a doçura que vejo e, forte e violento, respondi com toda a poesia que tenho. Tentaram me desviar do meu caminho e, em resposta, fiz de uma rota de perdas o melhor atalho para chegar à frente de todos.

Tentaram ralentar meu pulso, adormecer minha fome, dobrar minhas ideias. E eu sorri para eles. E nas noites que se seguiram, tentaram ensurdecer minha intuição, nausear meus prazeres, tentaram me fazer carregar uma culpa que não era minha, como um animal passivo que segue a própria sombra. Mas eu não levo, não levo adiante nada que não seja meu.

Atearam fogo em meus poemas preferidos, mataram envenenados todos os meus amigos, desfiguraram meu rosto para que meus pais não me reconhecessem mais em meio à dor. E diante de toda a covardia, e diante de toda a maldade, sempre me levantei e caminhei mais um pouco. Como a ostra que, para se defender dos intrusos, envolve-os da toxina do medo até formar pérolas em volta de todo o mal por dentro.

Mas, apesar disso tudo, não sei como responder ao seu silêncio. Não sei o que dizer a quem me vira as costas, não sei se quero aprender. Eu morrerei ainda de muitas outras coisas, mas não da ausência de você. Na noite em que me deixou falando sozinho, eu pensei em gritar e espernear de dor. Mas não, outra vez, esse não sou eu. Eu sou aquele que transforma a maldade que os outros tentam me causar em beleza. Não precisa responder. Já estou longe demais para ouvir qualquer coisa que venha de você.

Comentários

Leia também