Anagrama

Tateando. Talvez ainda seja cedo para esticar o passo, para firmar direito a sola do pé. Mesmo entrando com o pé direito das outras vezes, não se pode dizer que o amor nos deu sorte, Ana. Já estivemos aqui um milhão de vezes. Mais ou menos feridos, mais ou menos descrentes. Já estivemos um milhão de vezes de frente para o amor, pensando em saltar.

Por que voltamos a acreditar que o amor poderá nos salvar das nossas linhas retas, dos nossos sonos que descansam, do trânsito sem pensamentos distantes? Por que você não continua aí em paz, Aninha? O amor consome demais, consome tanto. Você ainda tem o que dar?

São horas demais com saudade, tantas outras pensando no que foi ouvido, dito, não dito, maldita complicação. Quase não sobra tempo para respirar. O amor te pede revoluções pequenas, agendas complexas, pede paciência, te pede pra esperar. E você espera, Ana. Na portaria, no estacionamento, espera em silêncio.

E o coração perde a cabeça, quando ele chega, quando ele não liga, quando ele não percebe, quando ele olha demais em outra direção. Você diz que não, que o foco não está nele. Claro que não. O foco está no amor que você sente pelo amor que alimenta por ele. Coração dentro da cabeça. Complicação, perversa complicação.

Os outros estão te pressionando? Ou são os amores extremados em público, os casais dividindo pratos no restaurante, os pássaros que voam duplos? O que te tange, Ana, em direção ao amor, ao súbito? Você continua procurando, você continua desejando encrenca, Ana. Por mais que diga que não.

Ana, quem procura acha. Acha desejo, acha carinho, acha saudade que nunca passa, acha cheiro que embriaga, acha medo. Acha beijo que tira o ar, opiniões que testam a paciência, manias que só vão piorar, quem procura acha a quem procurar.

O amor não se esconde, exibido. O amor adora se mostrar, se oferecer nos momentos mais descabidos. Ele se esconde, como um menino, atrás da porta com os pés entregando o esconderijo. A graça toda é se deixar encontrar. Seu coração anda mesmo doido para se complicar. Ana ama amar.

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