Amigados

Nunca me esqueço da palavra que vovó usa pra definir um casal que mora junto, mas não é casado — São amigados — fazendo pouco caso. Lembro que quando criança, eu achava esse termo maravilhoso. Pensava em como devia ser bom morar com um amigo. Poder brincar o dia inteiro, dar risada o dia inteiro, um emprestar seus brinquedos pro outro, ninguém pra dar bronca, cobrança. Coisa boa era ser amigado.

Tudo bem, hoje entendo o que ela queria dizer, mas ainda acho que é mais jogo ser amigado que casado com quem a gente ama. Se casar é dividir uma casa, combinar personalidades, juntar duas metades; amigar é ser bem mais parceiro, dividir momentos, aceitar ser amigo do seu companheiro. Julgar menos, ouvir mais. Estar atento aos pequenos sinais de que o outro precisa de colo.

Se casar é dividir as contas, amigar deve ser dividir os sonhos, planejar, tramar juntinho com a pessoa no mundo em que você mais pode confiar. Se casar é tolerar, amigar deve ser adorar estar junto, contar os minutos, ver algo e pensar — Queria que ele também pudesse ver isso. Se casar é achar que os erros do outro são sempre um ataque a você, amigar deve ser a compreensão de que todo mundo está tentando se melhorar.

Se casar é ir a mais jantares, passar mais tempo em casa, ver mais novelas. Amigar deve ser adorar dançar com quem se ama, se esforçar pra tirar o outro de casa, porque você quer conhecê-lo ainda sob tantas diferentes luzes. Se casar é lutar contra o tédio no sexo, amigar deve ser contar todos os desejos, aprender com as experiências do outro, se sentindo mais engraçado que culpado. Amigo tem esse dom de dar leveza para tudo o que ele toca. Meu sonho é dividir um mundo contigo e não roubar o seu. Vem se amigar comigo.

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