Voltar Pra Casa

Estou correndo, voando pra casa. Estou voltando, vencendo os semáforos. Estou chegando, subindo as escadas. Como se só mais um degrau me separasse da sala, como se o corrimão fosse dar em você. Estou à porta, as chaves na mão. Jogo a bolsa, e me deito bem ao meio do seu peito, sem nenhuma cerimônia. Estive correndo o dia inteiro, todo esse tempo voltando pra casa.

Pego sua mão, penduro em meus cabelos. São seus dedos que devagarinho fazem toda a mágica. Eles têm esse dom de apagar meus maus pensamentos. Como quem limpa a poeira da capa de um livro e se põe a lê-lo. Como quem afasta as folhas da íris de um rio e o enxerga fundo. Como quem sabe que tudo o que eu preciso após um dia imenso é me tornar pequeno pendurado à volta de suas costelas.

E sem dizer uma palavra, só me beijando as pálpebras, você limpa meus olhos que te amam do avesso. E sem som nenhum, meus olhos também transbordam-se de amor por você. Brota nossa cumplicidade como uma flor pequenininha que se alimenta de luz, sem pressa nenhuma, sem fazer alarde, sem saber do tamanho de sua grandeza.

E basta seus braços para assentar todos os meus pensamentos. Bastam-me eles para apartar toda a confusão, pra adestrar todos as minhas inseguranças, num estalo, num abraço. Como a proteção de um templo de portas sempre abertas, uma catedral que guarda segredos atrás de janelas altas, um refúgio para os pobres medos inquietos. Com o tempo nosso amor se tornou a hora em que em mim tudo cala.


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