Os Reis do Burger King

Foto: Pixabay
Era segunda de Carnaval. O centro antigo de São Paulo estava em festa. Em meio aos unicórnios, bailarinas e piratas, uma cena chamou a atenção de todos. Um casal de velhinhos, lá por volta dos seus setenta anos, caminhava devagarinho de mãos dadas, mas animadamente pela rua. Sobre a cabeça, eles levavam, cada um, uma daquelas coroas de papel do Burger King. Ninguém ali, no centro de São Paulo, em pena segunda-feira de Carnaval, estava mais feliz que aqueles dois.

A alegria dos dois era realmente contagiante. Havia uma molecagem lerda, uma paixão discreta, mas acima de tudo, uma cumplicidade de dar inveja. Era o amor desfilando suavemente bem na nossa frente. E, assim como eu, todos meio que paravam pra olhar, pra achar bonito, pra fungar demorado. Todo mundo queria acenar pro amor. Poucas vezes na vida ele esteve tão presente, tão acessível.

Ao passar, os reis do Burger King deixavam a nós, seus súditos, uma mensagem clara: sim, ele está mais raro, mais complexo, precisa de novos arranjos, de novos consentimentos, mas ele ainda está por aí, o amor. Sim, ele ficou mais acelerado, curto, vertiginoso, desbocado, adolesceu o menino amor. Sim, ele questiona, ele se esquiva, ele se disfarça, ele passa longos tempos sozinho em silêncio, mas ainda é amor de quem a gente tanto ouve falar.

Ao vê-los passar, eu me quis novamente dentro de uma felicidade perene, incontestável e que durasse uma vida toda. E isso é querer demais, eu sei. Eu me quis novamente do lado de dentro de uma cumplicidade tão vespertina. Eu quis outra vez conhecer alguém que topasse minhas loucuras, que aceitasse se rir comigo, eu quis alguém, sem exigir demais.

Talvez ela não venha. Ou talvez venha, mas não passe tanto tempo, vai saber. O tempo mudou pra todos nós, o amor mudou pra todos nós, mas não para aqueles dois. Aqueles lá sabem exatamente até onde vão.


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