O Que As Estrelas Me Contaram

Quando moleque, eu tinha certeza de que havia alguém do outro lado da estrela para a qual olhava admirado todo começo de noite. Havia de haver alguém do lado de lá me observando, pensando em mim, sem nem ao menos me conhecer, porque eu também me sentia assim.

Me sentava todas as noites religiosamente na frente da casa e ficava ali, imaginando que um dia eu me apaixonaria por alguém que já amava baixinho. Eu já pensava nisso, antes mesmo de ter ideia da complicação que era amar. Aquele olhar para a estrela era um pressentimento bom de que alguém iria me salvar, da minha baixa estatura, do meu tédio, mas daquele vazio já tinha nascido comigo, que nasce e morre com todos nós.

Hoje, décadas depois, me sentei novamente. Agora na frente do prédio em que vivo. A lua mal podia ser avistada. As estrelas, apenas velhinhas tentando ser notadas na multidão de luzes da cidade. E eu, olhando novamente para a estrela, senti uma saudade imensa da certeza que eu já tive um dia. A certeza de que alguém me esperava. Aquela tristeza era a mesma de ver uma estrela morrer. Pena misturada com miudeza.

Senti uma culpa gigantesca por não ter permitido que meu eu menino se encontrasse com aquele outro olhar. De certa forma, foram as escolhas erradas que fiz que os afastaram. Não falo das pessoas. Pessoas nunca serão escolhas erradas. Todas elas nos levam para algum lugar em que deveríamos invariavelmente chegar. Quando falo de escolhas erradas, digo das intensidades desmedidas, dos medos que me impediram de submergir na confiança, das segundas chances que não dei, muitas e tantas vezes, para mim mesmo. E hoje eu sinto uma saudade cortante, funda, doída daquela certeza de que alguém também sonhava comigo.

Uma vez, contei essa história para minha amiga Analice, deitados nas redes da varanda dela – E para qual estrela exatamente você olhava todas as noites? Você lembra? – Perguntou curiosa botando metade do dorso pra fora do pano – Não era uma estrela em especial. Acho que eu só olhava pra cima e mirava na primeira. Era ali nosso encontro – Ela sorriu e olhou para o céu bonito do quintal – Então, seu amor nunca se tratou de certeza, mas de fé – E por alguns minutos meu coração voltou a acreditar.



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