O Pequeno Que Mora Na Gente
Passei um tempo ali à sombra observando as crianças de quatro ou cinco anos, correndo com suas perninhas miúdas pro mar. Eles iam, iam e iam, como se fossem furar a primeira e depois a segunda onda. Como se fossem criar nadadeiras e voltar para o fundo do mar. Pequenos sereianos. Atrás de mim, o coro de mães gritava que era pra parar. Aconselhavam dos perigos da vida, corriam uns metros, gritando e tomando ar, catando as roupinhas em miniatura – Volta pra cá, menino! – Não temer é mesmo de um perigo danado.
Eu sorri e desejei profundamente um tantinho daquela inocência de volta. Um décimo daquela coragem desajuizada. Um milésimo daquela curiosidade desprecavida. Eu sorri e desejei ser criança, mas também ser onda. Ser coragem, mas também sabedoria. Ser pureza, mas ainda ter comigo minhas andanças. Desejei, mesmo sabendo que era impossível.
Desejei ver alguém de minha altura e entender que isso já era o bastante para sermos amigos. Desejei outra vez apenas dizer – Vamos ser amigos? – e estar tudo certo. Bastava isso. Desejei não sentir mágoa nenhuma dos que vieram antes de mim. Sentir apenas uma raivinha momentânea e no instante seguinte correr pros seus abraços após o primeiro gracejo. Desejei não temer nada que fosse maior que eu. Desejei ter a loucura, a pureza e a quase demência autorizada e somente me apaixonar outra vez.
Desejei uma corrida despreocupada com o ridículo, um descabimento para as roupas que não faziam sentido, um alinhamento improvisado com os meus próprios joelhos depois de já ter corrido. Desejei um olhar impetuoso adiante, um frio na barriga por tão pouco, um achar graça de nada. Desejei um tempo incompreensível em que relógios e calendários não diziam nada. E no exato instante em que desejei o impossível, eu me tornei aquilo que desejava. Porque para ser feliz bastava estar contente com o que nossos bracinhos curtos alcançavam.
Um tempo depois, crianças todas recolhidas, foi minha vez de correr. Corri o mais rápido que pude. E percebi que ser gigante também tinha suas virtudes. No último instante, eu furei a onda. Nem tudo está perdido. Há ainda um lapso de doçura morando em cada um de nós.
Eu sorri e desejei profundamente um tantinho daquela inocência de volta. Um décimo daquela coragem desajuizada. Um milésimo daquela curiosidade desprecavida. Eu sorri e desejei ser criança, mas também ser onda. Ser coragem, mas também sabedoria. Ser pureza, mas ainda ter comigo minhas andanças. Desejei, mesmo sabendo que era impossível.
Desejei ver alguém de minha altura e entender que isso já era o bastante para sermos amigos. Desejei outra vez apenas dizer – Vamos ser amigos? – e estar tudo certo. Bastava isso. Desejei não sentir mágoa nenhuma dos que vieram antes de mim. Sentir apenas uma raivinha momentânea e no instante seguinte correr pros seus abraços após o primeiro gracejo. Desejei não temer nada que fosse maior que eu. Desejei ter a loucura, a pureza e a quase demência autorizada e somente me apaixonar outra vez.
Desejei uma corrida despreocupada com o ridículo, um descabimento para as roupas que não faziam sentido, um alinhamento improvisado com os meus próprios joelhos depois de já ter corrido. Desejei um olhar impetuoso adiante, um frio na barriga por tão pouco, um achar graça de nada. Desejei um tempo incompreensível em que relógios e calendários não diziam nada. E no exato instante em que desejei o impossível, eu me tornei aquilo que desejava. Porque para ser feliz bastava estar contente com o que nossos bracinhos curtos alcançavam.
Um tempo depois, crianças todas recolhidas, foi minha vez de correr. Corri o mais rápido que pude. E percebi que ser gigante também tinha suas virtudes. No último instante, eu furei a onda. Nem tudo está perdido. Há ainda um lapso de doçura morando em cada um de nós.
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