Má Companhia

Ninguém telefona mais pra gente na era dos aplicativos. Mas, estranhamente, essa semana meu telefone tocou. Lara toda feliz do outro lado. Acho que ela é a única que ainda liga para as pessoas – Tô namorando! – empolgada.

Jura? Me conta dele – silêncio – Ah, ele é advogado – silêncio – Sei… Mas me conta como ele é – silêncio – Ele é bonitão, assim, alto – silêncio – Lara, eu quero saber como ele é, o que ele gosta de fazer, o que vocês fazem juntos, quero saber por que ele te faz feliz – silêncio.

Lara não sabia como responder àquilo. Claro, ela poderia fazer um perfil psicológico dele: calmo, educado, focado, inteligente. Esse não era o problema. Minha amiga não sabia responder por que ele a fazia feliz ou se ele a fazia feliz. Em resumo, Lara é mais uma que não sabe por que ama quem ama. E isso lança uma névoa espessa no ar – Ama mesmo? Ou você ama a ideia de amá-lo? Muita gente não percebe, mas há um universo inteiro de distância entre esses dois sentimentos.

Você ama estar com ele ou ama ter alguém com quem estar? Você tem medo de se imaginar no futuro sem ele ou tem medo de se imaginar no futuro sozinha? A voz dele te reconforta ou só preenche o silêncio da casa? O beijo dele te inunda a alma ou só rouba o ar? Talvez, na pressa de ser feliz, você não tenha parado pra pensar.

Melhor mal acompanhada que sozinha? Um dia o medo passa; os olhares que te olham de fora cegam; as opiniões que te acompanham, calam-se; e tudo o que lhe restará é a sombra remanescente das escolhas que fez. Quando a gente se agarra a alguém pelo simples medo de ficar sozinho, sozinhos somos duas vezes.

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