Islândia

Vigiava a água da fervura pacientemente. Não havia nada melhor pra fazer que esperar. Esperar alguma vida brotar dali em pequenas bolhas, esperar que sua própria vida brotasse de algum lugar. Há duas semanas foi jantar com Eduardo, após um dia comum de mensagens carinhosas a cada oito horas, como pílulas de afeto. Fizeram o pedido do que comer, comentaram a decoração confusa e após o primeiro prato, ele disse que a amava, mas que a iria deixar.

Desde então, sua espera é esperar. Que faça sentido, para que ela também possa dar algum sentido para si. Não houve briga, desentendimento, seus dias tranquilos eram costurados com pequenos silêncios e depois declarações de amor, homeopáticas. Aos poucos, ela entendeu que nunca o entendeu, nunca o alcançou de verdade. Aquela era uma daquelas situações da vida que a gente não compreende, só espera que passe, como passam as tempestades maiores que nós.

De nada adiantava também perguntar. Ela até tentou. Tentou até que ele disse qualquer coisa, que não queria estar ali, em um relacionamento. Não fazia sentido. Há mesmo gente que consegue amar e desamar como quem se muda de país? Como quem embala tudo e parte para a Islândia? Ele também não respondeu. A gente só pode mesmo embalar os próprios sentimentos, com a paciência de quem embala uma criança. O que ele sentiu, foi só dele e jamais seu.

Parou de esperar que todos os sentimentos se resolvessem, se coisificassem, estéreis. Há sentimentos que não aceitam sentenças, não desejam serem repartidos entre os gostos amargos ou doces da língua. Há sentimentos que passeiam para não serem pertencidos. Que não se terminam, que são absorvidos, ainda que não nos absolvam de nossa culpa.

Vai ver que ele sempre tenha sido estrangeiro e você nem notou. Falando outro idioma, mantendo seus velhos hábitos, com saudade de uma casa que você jamais poderia ser. Vai ver que ele só voltou. Voltou-se pra si mesmo. Pior que gente que parte sem nós, é quem fica mas não está presente. Não dá pra explicar o que nem a gente entende. Aceite. Aceite tudo o que a vida sabiamente te dá.

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