Dois

Dois corações. Um que segue e um que espera. Um faminto e outro sonolento, quem vencerá a guerra? Um que vigia, outro que irrompe. Um crê e o outro mente. Um mergulha e o seguinte hesita. Quem se consome é um deles. Quem se guarda, também. Quem vencerá a briga?

Dois. Um é par, o outro ímpar. Um é fé, o outro, dúvida. Enquanto um cala o outro escuta, para calar logo em seguida. Dois desencontros, dois pesos, duas medidas. Um busca e o outro se esconde, um ama e, o outro, teme. Um indo, outro voltando, e no meio do caminho, os dois se encontram. Logo no oposto do caminho que é do outro. Quem desembaraçará a trama?

Nós não sabemos fazer isso direito – repete o do lado direito. E o outro, inconformado com suas incapacidades, se enche de cálculos numéricos exatos, de técnicas antigas engenheiras, mas não encontra também jeito, por que um marca os segundos e o outro é lento como as horas lerdas. E ainda que se caibam, se encaixem, se encontrem, não é da natureza deles permanecer juntos.

E teimam, e teimam e queimam, como queimam todos os amantes. E lutam como se estivessem para demolir toda uma Buenos Aires, mas é amor, é amor o nome do meio da luta deles. Dois ímpares, dois díspares. Assim anunciava o folheto, aliciando para a próxima sessão das sete. Venham ver! Venham ver! A incrível mulher que carrega dois corações em seu peito.


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