Dois Mundos
Naquela manhã ela mentiu outra vez. Acordou e fingiu-se feia para o espelho, desanimada para o chuveiro, amargurada para o café não menos amargo. Mentiu e, ao virar a esquina, abriu um sorriso largo. Colocou música alta, deixou o carro e foi caminhando, como se tivesse outra vez quatorze anos e pressa nenhuma. Esse era um segredo só dela.
Lá fora, o ar limpava os pulmões, enchia o estômago outra vez de borboletinhas brancas. Babi queria viajar, queria rodar o mundo trocando de nome a cada nova cidade, queria sentir o sabor das coisas, queria se apaixonar outra vez, mas não podia. Seu mundo era outro, seu mundo era um só. Então, sozinha, ela brincava também de ser outra. Pintava sua antiga inocência, revisitava seus sonhos, seu humor abobalhado.
Os ombros cansados não conseguiam mais carregar uma mochila, já suportavam peso demais. Então, veja lá que sabedoria, sem poder se infiltrar em outro país, mergulhar em lagos de sal, caminhar sobre as dunas, sem poder alugar uma bicicleta para pairar sobre os campos floridos do Norte ou tomar um barco sobre o gelo do Sul, Bárbara se levava pra passear, ali mesmo nas redondezas da vida que tinha.
Bárbara mentia. Quando dizia que queria ficar, quando dizia que jamais se veria em outro lugar: ela se via, mas preferia não olhar demais naquela direção. Quando se olha já se começa a ir. Olhar é metade do estar. Eu não a culpo. Ninguém poderia. Mais difícil que fugir, é se fixar. Partir é fácil, é óbvio é natural de nós, quase fisiológico, como respirar. Nós nascemos pra ir como um rio, como a luz, como o ar.
Ela nasceu pra ir, mas escolheu ficar. Ficar que é heroico, vencer a rotina é que é majestoso. E depois de brincar de ser Maria, Karol, Marina ou Letícia, minha Bárbara voltava a ser só minha. Viajando por toda a linha do meu abraço largo de domingo, mergulhando nos meus lábios para esquecer o dia, deitando sobre as dunas das minhas costas no sofá. Desvendava as trilhas dos meus cachos, tentava aprender a linguagem antiga do meu olhar. Aventura mesmo é decidir ficar e aceitar ser o mundo inteiro também do outro.
Lá fora, o ar limpava os pulmões, enchia o estômago outra vez de borboletinhas brancas. Babi queria viajar, queria rodar o mundo trocando de nome a cada nova cidade, queria sentir o sabor das coisas, queria se apaixonar outra vez, mas não podia. Seu mundo era outro, seu mundo era um só. Então, sozinha, ela brincava também de ser outra. Pintava sua antiga inocência, revisitava seus sonhos, seu humor abobalhado.
Os ombros cansados não conseguiam mais carregar uma mochila, já suportavam peso demais. Então, veja lá que sabedoria, sem poder se infiltrar em outro país, mergulhar em lagos de sal, caminhar sobre as dunas, sem poder alugar uma bicicleta para pairar sobre os campos floridos do Norte ou tomar um barco sobre o gelo do Sul, Bárbara se levava pra passear, ali mesmo nas redondezas da vida que tinha.
Bárbara mentia. Quando dizia que queria ficar, quando dizia que jamais se veria em outro lugar: ela se via, mas preferia não olhar demais naquela direção. Quando se olha já se começa a ir. Olhar é metade do estar. Eu não a culpo. Ninguém poderia. Mais difícil que fugir, é se fixar. Partir é fácil, é óbvio é natural de nós, quase fisiológico, como respirar. Nós nascemos pra ir como um rio, como a luz, como o ar.
Ela nasceu pra ir, mas escolheu ficar. Ficar que é heroico, vencer a rotina é que é majestoso. E depois de brincar de ser Maria, Karol, Marina ou Letícia, minha Bárbara voltava a ser só minha. Viajando por toda a linha do meu abraço largo de domingo, mergulhando nos meus lábios para esquecer o dia, deitando sobre as dunas das minhas costas no sofá. Desvendava as trilhas dos meus cachos, tentava aprender a linguagem antiga do meu olhar. Aventura mesmo é decidir ficar e aceitar ser o mundo inteiro também do outro.
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