Curada

Fui visita-la no hospital. Nada sério. Andreia iria sair logo dali, mas eu não perderia a chance de contrabandear chocolate, maquiagem e um tablete, à pedido dela. Deixando-nos a sós, Igor, seu namorado há um ano, sumiu no corredor sorridente – Tem muita gente querendo te visitar. O Mauro falou comigo ontem – e ela ficou branca, ainda bem que estávamos num hospital – Diga a ele que eu morri – fechando a cara.

Mauro e Andreia namoraram por cinco anos. Em meio a planos de casar e ter mais filhos que Jolie e Pitt, terminaram porque ele não conseguia cumprir uma cláusula do contrato do casal que era determinante para Andreia – Mauro não podia ser fiel. Não fazia parte dele. Alguns anos se passaram, o Igor apareceu, Andreia voltou a ser feliz em par, mas algo não mudou. Mesmo que ele não tenha mais nenhum significado na vida dela, Andreia não consegue perdoá-lo.

Eu entendo, difícil mesmo esquecer da dor provocada por alguém que devia justamente nos proteger dela. Difícil deixar pra lá o fato de que a mesma pessoa pode nos levar para um voo alto e, sem mais nem menos, nos deixar cair. Ainda assim, eu espero que um dia a raiva que ela sente, possa se dissipar, se transformar em outra coisa mais leve de carregar – Espera! Não diz pra ele que eu morri. Você entrega um bilhete pra mim? – se ajeitando na cama.

“Eu adoraria perdoá-lo, mas isso ainda não é possível. Diante de toda a dor que vivi, fica difícil afastar a raiva que me obriguei a sentir para poder esquecê-lo. Àquela altura, raiva ainda era uma motivação pra me fazer reagir. A boa notícia é que não o odeio, não o quero mal. Eu apenas não o quero por perto. Por perto só mantenho pessoas que admiro, pessoas que significam algo. Encontrá-lo seria me reencontrar com a garota que já fui e o homem que você foi pra mim. Ambos não existem mais. Eu não sou mais triste. Talvez seja hoje feliz como nunca fui: com mais maturidade, entrega e segurança de que encontrei alguém que enxerga a preciosidade do que temos juntos. Um dia, Mauro, eu realmente o perdoarei e estaremos ambos livres, mas você também terá perdido a última e mínima ligação que ainda tinha com a verdade. Viva com suas mentiras pelo tempo que elas puderem durar”. Ela estava curada.

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