Color

Pense nela como uma cor, uma cor que ainda não existe, que nunca existiu. Feche seus olhos e tente imaginá-la e ela é diferente de tudo o que os seus olhos já enxergaram. Ela não se parece com o azul, nem lembra os tons de amarelo. Seu nome não vem do vermelho, nem é uma mistura que alguém inventou. Ela nunca foi inventada, mas acaba de nascer como um pequeno borrão na paleta da sua alma.

Ela não é uma cor estranha como fúcsia ou magenta, ela é simples, mas não primária. Ela nunca existiu, mas ainda assim tente imaginá-la, porque ela precisa do seu pensamento para existir. E imagine como seria o céu, se não fosse azul, durante os dias solares nem negro durante as noites caladas. Imagine como seria o céu se o céu fosse ela, aquela cor. E se ela, que nunca existiu, beijasse as nuvens lerdas, ouriçasse os bicos das montanhas, e fosse escorrendo, escorrendo e banhando o seu mundo inteiro. O seu todo interior.

Aos poucos, essa cor, cobriria as ruas como as pétalas que cobrem as ruas de Aveiro quando o amor passa em procissão. Pense nela, afastando a tristeza dos muros envelhecidos, transformando os namorados na paisagem distraída que eles gostariam de ser. Pense nela embrulhando seu mundo para presente. E de aqui em diante, tudo à sua volta seria cor, cheio de vida, ela. Pense nela.

E ela te quereria também nas sextas e não somente aos domingos, porque nos seus pensamentos ela faz mais sentido que por aí. E ela entraria educadamente pelo alpendre da sua casa e pintaria a sua porta como quem diz “Entre!”. E ela tomaria os quartos, iluminaria as janelas, explodiria na sala de jantar que quase nunca é usada, até chegar na cozinha, coração da casa.

E não haveria mais nem um cantinho tristonho. Todo o seu mundo sinalizado. E você jamais se perderia outra vez, porque para onde quer que olhasse, seu mundo seria ela. Ela. Pense nela como uma cor. Uma cor que ninguém nunca viu, com os tons que o seu amor sonhou. Pense nela como uma cor, uma cor que jamais existiu, mas que existe em você.

Comentários

Leia também