Bandinhas

Marcus passa meses sem dar as caras. Do nada me manda uma mensagem sem muita cerimônia – Ela me largou. Outra vez. Tô pra ficar doido. Que eu faço? – Pra ela voltar? – perguntei – Não. O que eu faço pra ser sozinho e não enlouquecer – Fiquei um tempo pensando se seria sensato avisá-lo que já era tarde demais.

Não, nós não fomos projetados para ser sozinhos. Toda a nossa aerodinâmica é voltada para o encontro com o outro: braços que se alongam até alcançar, mãos que se entrelaçam como um engate entre sonda e plataforma espacial, olhos que se buscam até se beijarem, pés que se aquecem mutuamente, problemas de coluna que nos entortam o suficiente para cabermos numa conchinha perfeita.

Apesar desse conluio universal, nada justifica o pânico de ficar só. Talvez ficar a sós nos lembre que um dia podemos ser sós. Talvez, só seja uma oportunidade de se ouvir que a gente prefere não ter. Verdade dói e ela faz eco nas cabeças como se fossem salas vazias. Talvez seja a hora de fazer as pazes com a nossa solitude e passar a valorizar a própria companhia de forma serena, porque assim como viemos, todos nós partiremos docemente sós.

A melhor e mais segura maneira de aprender a ser só é exercitar isso quando não se está sozinha. Como uma bicicleta com rodinhas. Para tudo na vida que parece ter sido feito pra dois, existe uma versão mono. Brigadeiro pra um, cinema pra um, pedalada pra um, sexo pra um. Quanto mais aprendemos a nos divertir com a nossa própria companhia, melhor companhia seremos pros outros.

Marquinhos faz o caminho inverso: tenta aprender a ser dois na vaga constância de sua própria companhia. Lembra? Daquela historinha? Que somos laranjas, procurando bandinhas? Isso nunca me fez sentido. Há claro um sentido de pertencer quando duas metades estão grudadas, juntinhas. Mas só há sabor de verdade quando cada metade sabe ser doce sozinha.


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