Attraversiamo

Há uma chave que abre uma porta. Alguns conseguem pegar a chave, girá-la na fechadura e abrir. Outros conseguem se aproximar da porta segurando a chave, mas não encontram a fechadura. Um grupo maior enxerga a chave e a porta, mas não consegue segurá-la ainda.

O mais lindo dessa antiga história que me cantaram é que os antigos acreditavam que diante de todas essas possibilidades, saber que a chave existe já é um grande presente. A chave é amor, a porta é seu coração, entrada de sua alma.

É nisso que penso, em dias como o de hoje. Em que sinto saudade de todos que amei, em que penso que às vezes poderia ter me esforçado mais para girar a chave, me dedicado mais para aprender a segurá-la, como uma criança de poucas semanas fazendo descobertas através de uma repetição delicada.

E assim, quando olho meu coração daqui de fora, quando olho atentamente em outros olhares esperando um reconhecimento mais antigo de volta, aguardando um sorriso gracioso que me ilumine como os céus de todas as cidades em que já vivi, meus medos me tomam.

E assim eu aguardo em delicadeza e repito essa prece interna de crer que alguém possa mesmo ser minha chave e tenha candura diante dos meus medos e me ensine um caminho terno e eterno até a paz que eu sei que existe em mim, quando estiver com ela.

Há uma chave que abre uma porta. Alguns conseguem pegá-la, outros girá-la, outros aguardam calmamente na certeza serena de que ela simplesmente existe.

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