Agendas

Eu sei, você não tem tempo. Tempo que é o monstro dos meninos crescidos. Na correria dos dias, nas noites insuficientes, você não tem tempo para me olhar nos olhos. Sentado em seu carro que não anda ou encurralado nos vagões que desaprenderam a andar pra frente, você pensa em mim, por um minuto que seja? Eu penso muito nisso. Talvez seja a hora de você transformar sua vontade em parada.

E eu estou em todos os pequenos detalhes retorcidos da cidade, te admirando enquanto você corre por aí. Não sei se você teve tempo pra notar, que eu te amei na rebeldia dos pássaros que não respeitam faróis, que eu te esperei nas vitrines que são sempre verão, que eu chamei e que eu tomei seu santo nome, três, sete mil vezes, em vão.

Você chama por mim, nessas filas que crescem para trás? Eu temo que quando eu me torne prioritário pra você, já estejamos envelhecidos demais ou puxando de uma perna. Porque você bem sabe: o desamor vai deformando a gente. Mas eu sei: você não tem tempo. Minhas ânsias, meus medos, minha carência desmedida o tomam demais e eu não sei se posso mais me esgueirar por entre seus nãos, por entre os vãos que te sobram.

Você já parou pra pensar, que talvez olhando de pressa você não enxergue nada completamente? Que os meus olhos te olhando não sejam somente mais um compromisso. Que os meus dedos tranquilos não reconhecem limites. Que os meus beijos demorados, de tão apressados perderam sentido? Olhe pra mim. Só por dois segundos seguidos. Esse é todo o tempo que vai levar pra você notar que assim como o tempo que finge ganhar, você também tem me perdido.


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