Depois do fim

Um dia, a gente olha para a pessoa que amava e percebe que não tem por ela mais admiração. Morreu o amor. Quem me disse isso, certa vez, foi o psicólogo Juliano Correa. E ele está certinho da Silva. O amor também morre por fatalidade, morre por preguiça, por falta de tesão ou pelo excesso dele. Morre sem que a gente nem perceba e, às vezes, leva pedacinhos de nós com ele.

Dia desses, um amigo com dor de cotovelo me perguntou — Como que a gente se cura do amor? — Ué, a gente se cura com o tempo, com a raiva, a distância, o esquecimento, a loucura, o trabalho, o cansaço, o sexo e um novo amor — simplifiquei o insimplificável.

O fim de algo que nasceu para ser pra sempre não é fácil. A gente chora, grita, morre e ressuscita ao terceiro dia, todos os dias. Engorda, emagrece, enche a cara, esvazia gavetas, pinta cabelo, ri e se desespera. Tudo antes do café da manhã. Em uma dessas, ouvi Clarice, minha amiga, disparar — Concentre-se nas coisas chatas da vida! — Achei maluquice, mas foi o que me curou, o que me salvou, uma ou duas vezes, e salvaria a Gretchen umas dezoito.

Dobrar as roupas, organizar os livros, plastificar documentos, pendurar quadros, seguir em frente. Por mais que não faça sentido no começo, diante de uma dor mortal, escolher um varal novo para a área de serviço nos impede de ir à loucura. Lavar a pilha de louça ajuda a enxaguar as ideias e lustrar a nossa autoestima. Limpar os espelhos pode ampliar os espaços, arejar os pensamentos, delivery da dignidade.

É nas coisas chatinhas da vida que começamos a reavaliar nossos valores, nossos sonhos, nossos pontos de vista, que saem naturalmente embaralhados da mistureba deliciosa de se viver a dois. E é com a casa arrumada que preparamos terreno para novas visitas, novas relações ou para nossas tão requisitadas horas só nossas. A escolha é sua e só sua daqui pra frente.

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