Ao Seu
Notaram que eu vim à reunião, mas não estava aqui, flagrante. Eu não estava reunido, estava espalhado por aí, buscando você. Estava em qualquer outro lugar, planando. Estava livre, longe das horas, mas preso ao seu nome.
Havia mesmo alguém ali, pendurando uma gravata que não combinava, mas não era eu. Só estava ali a gravata. Destoante, verde limão, confessando ter chegado sozinha para os ofícios. O pescoço, o par de ombros e o umbigo que a mediam, haviam se extraviado pelo caminho.
Nem sei por que saí pela porta de casa. Melhor seria ficar aqui esperando você chegar. Saí porque disse que ia, saí pra ver se te via pela obra charmosa do acaso. Mas nem sei por que me vesti. Já acordei sem caber em mim direito, com um calorzinho engraçado por trás do peito, com pálpebras preguiçosas como as montanhas Dolomitas. Felicidade GG.
Já levantei sentindo com mais atenção as pontas dos dedos. Adoro observá-las, selvagens, divergentes. Desenhei-me no espelho, eu estava incompleto. Não era a barba que incomodava, nem o cabelo grande demais, passando do tempo da visita ao barbeiro. Eu estava incompleto porque havia enxergado algo que parecia me completar. A gente não precisa de nada até saber que pode ter, que pode ser maior.
Se dizem que eu ando diferente, eu nego, digo que é impressão. Mas por dentro eu já digo baixinho, quase para que eu mesmo não possa escutar: Sê bem-vindo, ao lugar que é seu, ao seu lugar. Tudo que há em mim andou se preparando para receber-te, para perceber-te quando perto, aberto. Tudo em mim está pronto para esta aventura incrível que é ir-me por aí acompanhando você, como um garoto e seu balão. Sê então você a mente e eu o coração, somente pelo tempo que a gente puder se completar.
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