Amar à distância

Cau e Juliano se amam. Juliano e Cau não se desgrudam. Conversam o tempo todo, trocam mensagens pelo celular o dia inteiro. Deixam recadinhos com frases gostosas e sacanas um para o outro, trocam carinho por horas e horas, e depois ainda enviam longos e-mails comentando suas sensações, seus sentimentos, sua vontade de estar ainda mais juntos. Tanto sentimento quase despista os dois mil quilômetros que os separam. Cau mora perto do mar, Ju sonha com ele.

Dalton e Ana Clara se amam. Clarinha e Dalton quase nunca se veem. Pouco conversam, trocam algumas mensagens de texto durante o dia para tomar decisões práticas. Os recadinhos sacanas foram trocados por frases imperativas e não têm mais cheiro de perfume, nem gosto de nada. Assistem TV juntos, por horas e horas, e depois murmuram algum comentário, geralmente sem réplica. Dalton e Ana Clara vivem juntos em um apartamento pequeno no centro da cidade.

Cau e Juliano tinham tudo para nunca se conhecerem, mas pela graciosidade da vida, se encontraram, ao acaso. Dalton e Ana cresceram na mesma cidade, frequentavam as mesmas festas, foi fácil se apaixonar. O amor surge em terrenos improváveis, como uma planta delicada que floresce nas pedras. O desamor, na contramão, é cultivado vagarosamente, em solos óbvios, no descuidado diário.

O distanciamento no amor acontece nas pequenas coisas que deixamos de fazer e dizer, nos consecutivos desencontros, nas noites mal dormidas. O amor se vai de mãos dadas com a admiração. Já um amor em distância física é alimentado por pequenas delicadezas, por todo e qualquer sintoma da vontade de proximidade. A dificuldade nos ensina a valorizar quem não está por perto, isto é antigo e certo. Ter alguém ao alcance do braço e do abraço nos lança ao risco de nos acostumarmos.

Cau e Juliano só se tocam em feriados e datas comemorativas. Dalton e Ana Clara também. Há quem duvide do futuro do amor de Cau, Juliano, Dalton e Ana. Mas, no frigir dos ovos, o que importa é que eles se acreditem. Se o amor pega um trem, avião, táxi, e ainda sobe dois lances de escada, por que não poderia vencer o dia de hoje e atravessar a sala para dar um abraço apertado numa hora imprópria? Cau e Juliano não podem fazê-lo, por enquanto.

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