Búfalos

Após muita insistência, consegui convencer Bela a me acompanhar até a Ilha do Marajó. A ideia de tomar um navio a assustava, mas a perspectiva de não ter um shopping center num raio de três quilômetros a apavorava ainda mais. Não se adiante: Bela não era fútil. Muito pelo contrário, Bela era uma das mulheres mais interessantes que já conheci na vida. Acontece que ela tinha e assumia certas necessidades. Instalados, fomos fazer nosso exercício preferido: caminhar por aí.

Ao cruzarmos um riozinho, nos deparamos com uma pequena manada de búfalos. Lindos, grandes e cheios de bondade. A bondade transbordava daqueles animais. Quando procurei por Bela para comentar isso, ela já estava distante, tocando em um deles, se deixando tocar.

Extasiada, em transe. Bela havia tido um encontro com algo superior. De trás da nuvem escura de pelos, saiu um menino magrelo, que os estava guiando. Bela não se segurou — Ei, menino, como é que uns bichos desse tamanho não se rebelam? Não saem por aí fugidos? — perguntou sem tirar os olhos do pelo escuro e grosso que os vestia. Só aí notei, que quando estavam trabalhando com alguma carga, ou levando gente, os búfalos só eram mesmo amarrados por umas tiras finas, às vezes uns ganchos, tudo bem mais fraco que eles. Jurandir, esse era o nome do moleque, respondeu sem jeito
— É que eles não sabem que são fortes. Eles não sabem que são fortes.

Os olhos de Bela tornaram-se ainda maiores, encheram-se de uma verdade sem tamanho e ela saiu andando e chorando, andando e chorando e eu atrás acenando pro menino, já de longe. Você é forte, todo o resto é só a mão do costume sobre o seu ombro. Você é forte, tudo além é só medo do que ainda é desconhecido. Você é forte, ainda que ache que não precise ser. Você é mais forte e maior do
que consegue medir em sua sombra. Não é preciso ir tão longe para entender isso. A verdade não pode ser comprada, ela pede para ser colhida. Bela, minha forte. La belle, minha querida.

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